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“1984“ e “O Conto de Aia“: livros sobre distopias esgotam nos EUA após eleição de Trump

“O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, romance ambientado em uma sociedade totalitária, subiu para o topo da lista de livros mais vendidos da Amazon nos Estados Unidos após a reeleição de Donald Trump.

O livro teve um aumento surpreendente de 6.866% nas vendas, de acordo com dados da empresa divulgados na manhã desta quinta-feira (7), saltando em um único dia para a terceira posição dos mais vendidos ante sua classificação anterior de 209ª.

Atualmente, a obra ocupa o primeiro lugar nas categorias de ficção literária e ficção política da Amazon, e está em nono lugar na lista de livros mais vendidos da Barnes & Noble, maior rede de livrarias dos EUA.

O ex-presidente republicano Trump venceu a vice-presidente democrata Kamala Harris na eleição desta terça-feira (5), conquistando um segundo mandato após perder em 2020.

Um dos principais temas dessa eleição foram os direitos reprodutivos, um ponto de preocupação para a campanha de Trump, já que pesquisas mostraram que eleitores favoreciam fortemente Harris nessa questão.

Embora Trump tenha afirmado que vetaria uma proibição federal ao aborto, ele reivindicou o crédito por ter indicado três juízes conservadores que alteraram o equilíbrio da Suprema Corte dos EUA e, que em 2022, revogaram o caso Roe vs. Wade, jurisprudência que legalizou o aborto em 1973.

“O Conto da Aia” ocorre em um futuro teocrático dominado por homens nos EUA, em que a constituição dos EUA é suspensa, a mídia é censurada e mulheres (as “aias” do título) são forçadas a gerar filhos para a classe dominante.

Muitos recorreram a comparações com o clássico de Atwood no período que antecedeu a eleição, especialmente em torno do tema dos direitos reprodutivos.

Ao comentar sobre a forte participação das mulheres nos dados de votação antecipada, a ex-assessora sênior de Barack Obama, Valerie Jarrett, disse à emissora estadunidense MSNBC que “as mulheres não querem estar em ‘O Conto da Aia’”, apesar de pesquisas de boca de urna mostrarem que a vantagem de Harris entre as mulheres não excedeu a de Joe Biden em 2020 nem a de Hillary Clinton em 2016.

Atwood, defensora declarada dos direitos ao aborto, postou no X, antigo Twitter, uma charge política antes da eleição que mostrava mulheres vestidas como aias votando e trocando seus uniformes por roupas normais ao sair da cabine de votação.

Após a eleição, ela postou: “O desespero não é uma opção.”

Não é a primeira vez que seu livro entra na conversa política. Mulheres vestidas com o icônico capuz branco e o manto vermelho das aias se tornaram símbolos em protestos, desde a nomeação de Brett Kavanaugh, indicado por Trump, para a Suprema Corte até a repercussão da dissolução do caso Roe vs. Wade.

Outras obras de ficção distópica também dominaram a lista de mais vendidos.

Romances que tratam de temas semelhantes de opressão, como “1984”, de George Orwell, sobre vigilância constante e rígido controle governamental, e “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, sobre uma sociedade em que os livros são completamente banidos, tiveram um aumento de 250% e 333% nas vendas na Amazon, respectivamente.

A eleição também impulsionou downloads de certos aplicativos, como o Calm, de meditação, que subiu 100 posições na App Store desde a noite da eleição, segundo um porta-voz do app.

O Calm chamou atenção nas redes sociais após exibir anúncios que ofereciam aos espectadores “30 segundos de silêncio” em meio à cobertura contínua da eleição.

O atual livro número um em vendas nas listas da Amazon e da Barnes & Noble é o livro de memórias da ex-primeira-dama Melania Trump, intitulado “Melania.”

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