A cidade japonesa de Fujikawaguchiko ergueu uma rede preta gigante para bloquear a vista do Monte Fuji, uma reação à enorme popularidade da cidade no Instagram e outras plataformas de mídia social.
“É lamentável que tenhamos tomado tais medidas”, disse uma autoridade local à CNN no mês passado, quando o conselho da cidade decidiu bloquear as vistas mais populares do Fuji com uma tela preta de 20 metros de comprimento, erguida nesta terça-feira (21).
A pequena cidade na província de Yamanashi tornou-se o centro de uma controvérsia internacional nas últimas semanas. Um mirante específico em Fujikawaguchiko, que fica aos pés do Monte Fuji e próximo ao ponto de partida de uma das trilhas mais utilizadas na subida da montanha, tornou-se tão popular entre os visitantes que estava causando problemas aos moradores locais.
A Clínica Odontológica Ibishi, localizada no prédio ao lado do local utilizado para as fotos, por exemplo que seus funcionários e pacientes tiveram que lidar com o assédio de turistas.
“Houve uma série de atividades ilegais incômodas, como deixar lixo, invadir instalações, fumar, comer no estacionamento ou sob os telhados de casas particulares e invadir telhados, o que muitas vezes resultou em intervenções policiais”, disse um comunicado divulgado pela clínica. “Tornou-se comum as pessoas gritarem para nós insultos ou jogarem cigarros acesos quando pedíamos para retirarem os seus carros”.
O comunicado acrescenta que o local fotográfico “atrai um fluxo constante de estrangeiros desde o início da manhã até tarde da noite, e mesmo os residentes locais não conseguem se comunicar com eles quando os alertam em japonês”.
A Clínica Odontológica Ibishi confirma que foi uma das empresas que solicitou à prefeitura de Fujikawaguchiko que tratassem do problema.
Os problemas de turismo excessivo do Japão
Desde que o Japão reabriu as portas aos turistas estrangeiros após a pandemia, “viajantes vingativos” invadiram o país e as suas atrações mais populares. Mais de três milhões de pessoas visitaram o país por mês em março e abril de 2024, e a tendência de quebra de recordes parece estar no caminho certo para continuar, à medida que os turistas norte-americanos e europeus planejam suas férias de verão.
Embora o turismo excessivo seja um problema em todo o mundo, de Paris ao Havaí, a história de Fujikawaguchiko é notável por vários motivos. Neste caso, não se trata de uma atração específica que traz multidões de visitantes – é um mirante onde as pessoas gostam de tirar fotos do Monte Fuji. O ponto de vista é em frente a uma loja de conveniência, com pessoas paradas na estrada para tirar a melhor foto.
A maioria dos visitantes não se hospeda em Fujikawaguchiko, preferindo fazer uma viagem “bate e volta”, passando a noite na cidade mais movimentada de Tóquio – a apenas 100 quilômetros de distância.
Isto significa que não entra dinheiro na economia local – como ingressos, passes de museus ou taxas de hotel – para compensar os danos causados por milhares de visitantes ou os problemas de erosão, lixo e trânsito que eles trazem consigo. Como resultado, a cidade de apenas 10.000 habitantes tem lutado para lidar com a situação.
“Já vi pessoas andando nas estradas, pessoas usando [scooters] eletrônicas sem seguir as regras de trânsito e se envolvendo em acidentes. Houve muitos acidentes envolvendo turistas estrangeiros recentemente”, disse à Reuters Haruhito Tsuchiya, um morador local de 49 anos que trabalha na indústria do turismo.
A Lawson’s, a loja de conveniência em frente ao Fuji que aparece frequentemente em fotos da montanha nas redes sociais, também disse que tomará medidas para conter o fluxo de turistas mal comportados.
“Oferecemos nossas sinceras desculpas aos residentes locais, clientes dessas lojas e outros por incitar a inconveniência e a preocupação devido à popularização da filial da estação Lawson Kawaguchiko”, disse a empresa em um comunicado de 5 de maio.
Lawson’s acrescentou que contrataria seguranças privados para a loja Kawaguchiko e colocaria cartazes em vários idiomas pedindo aos turistas que não joguem lixo ou bloqueiem estradas.
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