Atualmente, a taxa básica de juros do Banco Central (BC) está em 10,5%. Ela serve como referência para as outras instituições financeiras do país definirem os valores que negociam o dinheiro que emprestam.
Consumidores e setores da economia, como construção, varejo e indústria, questionam esse patamar por ser elevado demais e restringir suas atividades.
Entre os culpados pelos juros altos no país, o ex-diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman, aponta à CNN a elevada taxa neutra, ou seja, que nem estimula, nem trava a economia.
Também chamada de taxa de equilíbrio, o BC estima que ela seja de 4,75%.
O problema é que quanto mais elevada for a taxa de juros neutra, mais alta precisa ser colocada a Selic para controlar os preços.
“Essa elevação observada vai consolidando a taxa de juros básica em um nível elevado que, ao longo do tempo, retira eficiência produtiva do país por direcionar investimentos para o setor financeiro”, aponta Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Mas outras estimativas também são feitas no mercado — e apontam valores ainda maiores. Consultor da A.C. Pastore, Schwartsman pontua que suas estimativas são de que a taxa neutra gire em torno de 5% e 5,5%, o que faz com os nossos juros atuais, mesmo elevados, sejam menos restritivos.
“Se fosse efetivamente restritivo, não estaríamos observando coisas como vendas no varejo crescendo bem, segmento de serviços, que representa consumo, uma série de itens em consumo que continuam mostrando crescimento, queda persistente da taxa de desemprego. Não parece que a economia está numa taxa de desaceleração”, avalia o ex-diretor do BC.
“A inflação não está desacelerando, o que não é compatível com uma política monetária restritiva”, conclui Schwartsman.
Historicamente o país tem convivido com juros altos. Além da inflação, economistas ouvidos pela CNN apontam outro culpado pela taxa neutra elevada: os gastos públicos em excesso.
“Em função do grande endividamento público, e por conta das incertezas que a gente tem no Brasil, como o sistema tributário, o nosso juro de equilíbrio é muito alto em termos reais [descontado a inflação]”, afirma à CNN Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC.
Agostini, da Austin Rating, aponta também para um problema de concentração de crédito e para diversas reformas necessária para a normalização das taxas.
“Enquanto não mudar a estrutura fiscal do Brasil, começando pela diminuição do tamanho do Estado na economia, melhorar o nível de governança corporativa nas empresas, ampliação do mercado de capitais e demais players no mercado financeiro, dificilmente veremos a taxa de juros no Brasil atingir níveis civilizados de forma estrutural”, conclui Agostini.
Além dos gastos públicos, Schwartsman aponta para uma divergência entre o juro do BC e o praticado por alguns agentes para o valor de equilíbrio alto.
“Ainda há uma parcela considerável do crédito que não é afetado pela taxa de juros médio, o crédito direcionado. Então se necessita de um juro mais alto para compensar o crédito direcionado”, aponta o ex-diretor do BC.
“Ao longo de décadas, uma série de setores conseguiram lobbies efetivos para conseguir uma parcela de crédito fora do mercado, um conjunto de modalidades que oferecem juro abaixo”, explica.
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