12/22/2024

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11 livros de 2024 que vão tocar o adulto de um jeito especial – AJN1

 

No mercado de livros e nos estudos acadêmicos, uma das maiores questões que envolve o “livro ilustrado” (“picture book” ou “livro-álbum”) é se é “somente para crianças”. Nas últimas duas décadas, especialmente, isso atingiu mais o Brasil e vem causando debate por todo o canto, inclusive dentro das casas com pessoas de várias idades e nas salas de aula. Adulto “se assumindo leitor de livro infantil”. É o que todo mundo acha e, às vezes, rola uma vergonha. Acontece que o livro ilustrado também é tratado não somente como um livro com ilustrações, com uma linguagem a mais para a criança ler. Nos meus estudos e papos com meus companheiros de pesquisa, ele é um gênero, uma forma de narrar; tem também quem o classifique como uma “linguagem”. Um ou outro, é um tipo de livro em que texto, imagem e design estão tão entrelaçados que o leitor lê os três hibridamente, como um texto único. O que tem no texto pode não estar na imagem e, com ela, conectar o sentido, e o próprio projeto gráfico e a materialidade do livro podem já ser elementos da narrativa, ou seja, da leitura.

Dito isso, há livros que a gente desaba da nossa “adultez” e cai no choro ou dá muita risada porque há camadas extras ali deixadas pelos autores que nos atingem de outra forma, principalmente quando o tema é mais sensível. Assim como os filmes da Pixar, que já nos acostumamos a dizer: “ah, não é só para criança”. O melhor desta conversa toda é que isso inverte tanto as coisas que vamos nos dando conta de que o “ser para criança” não é algo que diminui a potência poética, literária ou criativa de um livro: muitas vezes, pelo contrário, até aumenta. Pois criança é livre e não aceita qualquer coisa.

Aqui vão livros de 2024 que mexeram comigo e com leitoras e leitores por aí grandinhos de uma forma especial e que, também por isso, renderam ou podem render conversas bem bonitas com as crianças. Leitura compartilhada, a melhor de todas! Para o autor e pesquisador Odilon Moraes, por misturar as linguagens, o livro ilustrado é um “celeiro de paradoxos”. Em entrevista em 2014 à revista Literartes, da USP, à Isabela Lotufo, ele disse: “(Nele) texto que é imagem, imagem que é texto. Pode promover o encontro entre gerações, entre fantasia e realidade, entre a visão da criança e a visão do adulto, entre espaço e tempo”, diz. “Promove um encontro entre gerações diferentes, a imagem não reproduz mais a palavra, não é mais apoio para o leitor que está aprendendo a ler, a imagem está contando uma coisa e o texto outra, o adulto está acostumado a pensar que imagem é redundância, está acostumado a renegar a imagem e, quando ele percebe que a imagem não está contando o que a palavra está falando, é despertado para prestar atenção na imagem. A criança, por sua vez, está acostumada a ler imagem e assim aprende a ler palavras. Um adulto quando lê para uma criança, redescobre a imagem enquanto a criança descobre a palavra”, completa.

Aqui vão 11 livros lançados este ano que me tiraram – e podem tirar você – dos eixos. Com a nossa tradicional indicação de faixa etária, leia, ainda mais veementemente um “até os 104 anos”: o mais importante é se deixar levar, viver a experiência e o aprendizado da leitura compartilhada.

A partir de 4 anos

*Abecedário de memórias
Livro: Abecedário de memórias
Autor: Kamila Matsumato
Editora: Livros da Matriz

Neste abecedário + dicionário criado de forma especial, as palavras escolhidas para acompanhar definições dançam com o movimento de folhas e pétalas caídas pela vida. A cada dupla, uma frase como “abraço é remédio para sarar machucado”, “bairro para explorar e enterrar tesouros” ou “lágrimas à espera de uma lembrança”, nos comove na poética da palavra e na criação das imagens, que nos sugere um novo significado a cada leitura. A ordem sequencial segue o ABC, mas a escrita varia entre usar o comum “é” entre substantivo e conceito com pontuações diversas, como se um poema brotasse a cada movimento do virar de página: difícil saber o que veio primeiro e esse é o convite para deixar à fruição. Ao final, a autora conta sobre por que fez o livro e nos presenteia com um glossário das plantas de cada imagem-recolha-colagem que aparece sempre com uma curiosidade destacada.

*As mãos do meu pai
Livro: As mãos do meu pai
Autor: Choi Deok-kyu
Editoras: Boitatá e Pó de Estrelas

A materialidade do livro é a primeira leitura a se fazer: o exemplar está envolvido em uma “cinta” (parte de um livro que encobre a capa, como uma “luva aberta”, como bem ensina a produtora gráfica Márcia Signorini, em seu canal no YouTube chamado Gráfica Drops) que, ao ser retirada, vemos a composição com a imagem da capa e, por consequência, o que ela esconde também. Quando seguimos na obra do sul-coreano Choi Deok-kyu, de um lado, vemos um cuidado de um adulto e um bebê; de outro, um adulto e um homem mais velho. Quem são? O que as imagens estão querendo nos dizer? Afetados pelo amor e cuidado representados ali, vamos por diferenças e semelhanças das ilustrações, reconhecendo quem é quem e as vivências de um amor tão profundo. Quase sem palavras, o paralelo estabelecido entre infância e velhice vai provocar que as gerações se encontrem também “do lado de cá” da leitura. O livro venceu em 2022 o prêmio italiano Bologna Ragazzi na categoria não ficção e aqui vem em parceria entre duas editoras.

A partir de 5 anos

*Os filhos da coruja
Livro: Os filhos da coruja
Autores: Graciliano Ramos e Gustavo Magalhães
Editora: Baião

É um livro de pinturas? Esta é a primeira sensação-pergunta que nos passa ao virar as páginas. Uma paisagem, depois as asas e garras de um pássaro, ângulos diversos, e outro pássaro se aproxima e, no meio da página, no grampo exposto da junção do livro, uma folha menor, toda laranja, só texto: é a escrita de Graciliano Ramos com o encontro da comadre coruja e o compadre gavião, texto inédito do autor alagoano, assinado com pseudônimo J. Calisto. Entre um quê de fábula e um tom de oralidade, narra uma desesperada mãe-coruja que tenta evitar que seus filhos sejam comida do gavião faminto. O texto corre todo ali, em quatro páginas, mas as imagens imensas como voos da natureza seguem por todas as duplas até levar o leitor ao destino final (e fatal) já esperado. Foi recolhido pelo pesquisador Thiago Mio Salla e as pinturas feitas Gustavo Magalhães, artista visual do Paraná.

*Debaixo
Livro: Debaixo
Autor: Cori Doerefeld
Tradução: Janice Florido
Editora: Nanabooks

A cena que abre o livro é daquelas que a gente já viu várias vezes com os pequenos – e também já teve vontade de fazer igual: para cobrir um mau humor logo cedo, continuar encolhido na cama com um belo cobertor na cabeça. Pois é, nesta história, Finn não estava a fim de conversar, mas o vovô, mesmo assim, convidou-o para uma boa caminhada. Com a manta de proteção, lá foi ele. Nas primeiras imagens, conseguimos ver no máximo a ponta do nariz dele. Mas, depois, conforme vovô vai puxando papo e chamando a atenção para o que está debaixo da superfície, Finn vai ganhando confiança e mostrando um pouco mais de si à leitora/ao leitor. Estadunidense e autora do também lindíssimo O Coelho Escutou, a autora toca mais uma vez no sensível das relações, desta vez como entre adultos e crianças é preciso renovar pequenas esperanças todos os dias.

A partir de 6 anos

*A meninas lilás
Livro: A meninas lilás
Autores: Ibtisam Barakat e Sinan Hallaq
Tradução: Thariq Osman
Editora: Tabla

Desde a capa, encontro e desencontro com as cores, sempre o lilás indo e vindo. O nome do livro nos provoca a querer fazer a conexão com a cor. Mas as primeiras páginas nos levam a uma história de uma menina que tem o “dom de pintar e expressar seus sentimentos e pensamentos com cores que sussurram ou gritam”. É Tamam Alahkal, que “pinta sua felicidade em tinta a óleo e sua tristeza em aquarela”. O texto nos afeta poeticamente enquanto a cada virar de página vemos pinturas acontecendo. Mas o jogo entre texto e imagem e o tema das cores não estão ali à toa: uma difícil biografia vai se desenhando ao leitor/leitora para nos dizer sobre uma saudade de casa, sobre uma separação forçada, sobre a Nabka (“catástrofe” em árabe) vivenciada pelo povo palestino em 1948 e o consequente êxodo com a criação do Estado de Israel. Tamam é uma artista plástica palestina que precisou ir para Beirute aos 13 anos de idade e que hoje vive na Jordânia. Na história, a metáfora das cores se mistura à interpretação de uma infância doída e que a arte acolhe depois. A escritora Ibtisam Barakat é palestina, vive nos Estados Unidos e também trabalha como tradutora. O ilustrador Sinan Hallaq é libanês, designer gráfico e professor universitário. Em 2020, o livro ganhou o Sheikh Zayed Book Award para literatura infantojuvenil, premiação dedicada à literatura árabe.

*Lições de infância
Livro: Lições de infância
Autor: Chris Tragante
Editora: MireVeja

“Vale mais conhecer o trajeto de uma palavra que entender seu significado”. “Aprender é equilibrar-se entre riscos”. Quer mais uma? “Conversar é migrar de si”. Chris Tragante, artista visual e professora de arte, nos entrega 24 imagens cheias de infância acompanhadas de frases que poderiam estar espalhadas por espaços onde crianças e adultos se encontram. Movimento, diversidade, afetos e certas transgressões compõem as páginas em preto, branco e vermelho preponderando uma delicadeza de quem quer abrir conversas para não deixar que a gente perca os melhores detalhes da vida.

*O homem, o rio e a caixa
Livro: O homem, o rio e a caixa
Autor: Anabella Lopez
Editora: Perabook

O traço da autora argentina que mora no Brasil Anabella López sempre nos encanta com seu quê de mistério, de interpretação a partir de pinceladas aparentemente simples mas repletas de porquês. Aqui ela começa nos enviando às curvas de um rio; depois, nos ambienta de que existia um homem em uma floresta. Vivendo sozinho, certa vez ouviu um som diferente vindo de longe e, ao de deparar com um belo e jovem rio, se apaixonou. Apaixonaram-se. Tudo era perfeito e cúmplice até que, um dia, desesperado de perder o rio algum dia, o homem aprisionou a sua paixão em uma caixa. É quando o livro ganha um angustiante vermelho que antes não compunha a história. O rio gritou até secar e então o homem foi perceber o que havia feito. Uma corajosa publicação sobre como o amor, em tantas instâncias, pode sair dos limites.

*Hoje eu vi um pica-pau
Livro: Hoje eu vi um pica-pau
Autores: Michał Skibiński e Ala Bankroft
Tradução: Gabriel Borowski
Editora: Baião

Escrito em primeira pessoa, a primeira informação que o autor das palavras nos dá é que, aos 8 anos de idade, durante as férias de verão, ele tinha a tarefa de escrever uma frase por dia, algo que aconteceu e que quisesse compartilhar. O leitor ou a leitora então se pergunta: estamos em um diário? E uma dupla de uma belíssima pintura se abre, uma paisagem bucólica, uma floresta, um riacho e, então, a cada virar de páginas eu tenho uma imagem e um texto com uma data e uma frase. Parece algo trivial: a criança passeia com a família, vai à igreja, encontra bichos… até que nos damos conta de que ele está na Polônia e em 1939, ou seja, em plena Segunda Guerra Mundial. Aos relatos se soma, aviões circulando, mudanças de locais, a ocupação alemã. Mesclam as sequências páginas como fotos de um diário real, escrito em polonês, com uma outra informação a mais que devemos prestar atenção. O autor está vivo ainda e a tarefa escolar foi encontrada por um sobrinho que teve a iniciativa de procurar que se tornasse um livro. Para nós, uma perspectiva de criança para algo que nunca deveria acontecer.

*O dia em que virei um pássaro
Livro: O dia em que virei um pássaro
Autores: Ingrid Chabbert e Guridi
Tradução: Livia Deorsola
Editora: Pequena Zahar

Ah, o primeiro amor… que será que ele tem de diferença com os que vêm a seguir? Neste livro que saiu originalmente na Espanha em 2015, um menino narra que no primeiro dia de escola ele se apaixonou. Conta também que como Clara senta-se na frente, ele a vê somente. Ela, não. Ele percebe tudo, inclusive a paixão dela por pássaros. E tem uma ideia: vai à escola fantasiado de pássaro, claro! Com poucas imagens e frases, o livro abre uma chance de conversa sobre esse mistério que nos espanta na escola e, também, que insiste em nos comover com um livro ilustrado, até ficarmos adultos.

*De cabeça feita
Livro: De cabeça feita
Autores: Neide Almeida e Beatriz Lira
Editora: Quelônio

Dandara é uma menina que ama brincar com os irmãos e pegar as palavras para cantar. Vai vivendo enquanto cresce e observa os detalhes do mundo, sempre disposta a se encantar. Mas quando é hora de pentear os cabelos, é careta e tentativa de escapar. A menina amava o ritual, mas o pente fino fazia o choro chegar. Por que não podia deixar os cabelos soltos? Um dia pediu para experimentar novos penteados com a mãe e as duas se viram diante de uma caixa de fotos antigas com coques estilosos, black curtinho e a cada cabelo diferente, uma história vinha colada. De cabeça feita e muitas mulheres na cabeça, Dandara segue nas memórias que as constitui e as embeleza. O projeto gráfico em três cores, acolhe o poético e fluido texto de Neide Almeida e desliza com o traço diverso de Beatriz Lira, num combo de linguagens que se entrelaçam como as tranças ancestrais.

A partir de 7 anos

*Inesquecíveis
Livro: Inesquecíveis
Autores: Kiusam de Oliveira e Rodrigo Andrade
Editora: Moderna

O que você conhece do Movimento Negro Unificado? Ou o que você gostaria que as pessoas, desde cedo, já conhecessem sobre ele? Este livro poético em texto e imagem vem acolher este desejo de que a população brasileira esteja mais próxima de pessoas importantíssimas que contribuíram para avanços fundamentais na história de nosso país. Estamos falando de Tereza de Benguela, Lélia González, Luisa Mahin, Luiz Gama, José Adão, Zumbi e Dandara, e muitos outros. Maria Felipa de Oliveira e Marielle Franco, Erica Malunguinho e Abdias do Nascimento, Elza Soares e Carolina Maria de Jesus também compõe esta amorosa lista de pessoas, de luta e de relevância que Kiusam de Oliveira traz na palavra como um grito de resistência e que Rodrigo Andrade repoetiza no traço forte, colorido e ancestral. Um compêndio de importâncias que deve ser obrigatório nas instituições de ensino para o encontro em paz entre adultos e crianças em seu necessário letramento racial.

Fonte: Revista Crescer

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