Apesar de trazer desafios à indústria, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) vem num “momento oportuno” e é estratégico para o fortalecimento da pauta comercial brasileira, segundo avaliação da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Em entrevista à CNN, Rodrigo Santiago, presidente do Conselho de Relações Internacionais (RI) da Firjan, celebra a “vitória e resiliência da diplomacia brasileira” para fazer vingar, após 25 anos de negociações, um acordo que, do seu ponto de vista, traz “grandes oportunidades para o Brasil, e notavelmente para a indústria”.
“É um mercado altamente competitivo, que deve nos ajudar na modernização do nosso parque, dos nossos processos, em linha com a política industrial brasileira”, avalia o porta-voz da Firjan.
Com as dinâmicas permitidas pelo acordo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta alta de 0,46% na economia brasileira entre 2024 e 2040, além de crescimento de 1,49% nos investimentos feitos no país.
O grande vencedor seria o agronegócio brasileiro, que por ser mais competitivo que o europeu tende a se destacar ao abordar outro mercado.
Por outro lado, o Ipea avalia que a indústria enfrentaria dificuldades, sobretudo nos setores de veículos e peças; metais ferrosos; artigos do vestuário e acessórios; produtos de metal; têxteis; farmacêuticos; máquinas e equipamentos; e equipamentos eletrônicos.
Santiago reconhece o desafio pela frente, mas avalia que o Brasil se depara com uma grande oportunidade ao poder colocar seus produtos nas prateleiras de um mercado altamente qualificado e exigente.
“Sem dúvida o acordo fará a maré crescer, e aí todos os barcos sobem. Tanto de lá quanto de cá vão ser criadas oportunidades. Caberá à indústria brasileira continuar em sua rota de ganho de competitividade”, pontua o porta-voz da Firjan.
“[O livre comércio com a UE] é a afirmação de que a nossa produção se encontra nos mais elevados padrões de segurança”, conclui.
Com o acordo, 97% das exportações industriais brasileiras podem ter suas tarifas zeradas. Desse modo, Santiago vê o Brasil se tornando ainda mais atrativo para os investimentos europeus.
Quanto à competitividade com a indústria europeia, ele ressalta que “em relação aos produtos de lá, temos boas salvaguardas”.
Por exemplo, termos previstos no tratado apontam que, caso necessário, o Brasil poderá suspender por três anos o cronograma de liberalização de tarifas da indústria automotiva europeia ou retomar a atual alíquota de 35%, sem necessidade de compensação.
“O que nos interessa é reforçar o vínculo com um bloco que compartilha de valores comuns com o Brasil e o Mercosul. É reafirmar e entender com quem nós queremos negociar nesse mundo complexo, e adaptar e ganhar terreno”, enfatiza o presidente do Conselho de RI da Firjan.