Mesmo com vários motivos para empreender, as mulheres enfrentam alguns conflitos na realização do próprio negócio. É o que aponta a pesquisa ”Perfil das mulheres empreendedores do Nordeste brasileiro”, divulgada nesta segunda-feira (24) pela Be.labs.
De acordo com o estudo, a maior parcela das mulheres que responderam a pesquisa possui pós-graduação completa (26,2%), e 21,35% têm ensino superior completo. Os dados estão de acordo com os números nacionais: 27% das mulheres que empreendem no Brasil possuem ensino superior completo.
O quadro contrasta com o dos homens. Em nível nacional, 17% têm ensino superior, 37% ensino médio e 38% ensino fundamental.
No entanto, a alta escolaridade não garante uma renda proporcional. A renda mensal das empreendedoras do Nordeste é de 1 a 3 salários mínimos (56,1%). No cenário nacional, a situação é parecida: 7 a cada 10 empreendedoras têm renda de 1 a 5 salários mínimos, o que aponta uma disparidade em relação aos homens: nacionalmente, 65% dos empreendedores do sexo masculino ganham mais de 3 salários mínimos com seus negócios. No Brasil, 46% das mulheres alcançam esse patamar.
Conflitos como esses impossibilitam as mulheres de viver exclusivamente do próprio negócio: 71,6% informaram que o negócio não é a sua única fonte de renda na pesquisa. Esse contexto impacta diretamente na situação financeira delas.
Quando perguntadas sobre endividamento, 70,7% das mulheres afirmaram terem dívidas, a maioria delas relacionadas ao cartão de crédito (47,5%), seguida por banco (36,9%), família (8,5%) e contas em atraso (7,0%).
A pesquisa revelou ainda que a maioria das mulheres empreendedoras no Nordeste (41,6%) atua dentro do segmento de produção (artesanal, confeitaria, alimentação), e 82,9% delas faturam na faixa de R$ 1 mil a R$ 50 mil por ano.
No Brasil, 50% são de serviços, 28% de comércio, 14% Indústria e 7% construção. Nacionalmente, os segmentos de alimentação (39%), vestuário (20%) e cosméticos e perfumaria (11%) são os mais fortes dentro do setor de comércio.
A pesquisa ainda revelou que, se a mulher for negra, o salário fica ainda menor. Enquanto 82% das negras recebem menos de um salário-mínimo, 18% das brancas obtêm a mesma renda. Ou seja, mulheres negras (pretas e pardas) são a maioria das empreendedoras no Nordeste (64,4%), e ganham menos do que as brancas.
E os obstáculos não param por aí. A maioria das empreendedoras (33,2%) sente dificuldade em conciliar trabalho, estudo, família e vida pessoal; 26,1% sentem dificuldade em conciliar trabalho, tarefas domésticas e cuidado com os filhos, 22,1% sentem dificuldade em conciliar trabalho, família e vida pessoal, e 18% sentem ausência de reconhecimento.
Para Solange Freitas, CEO da Flex Bussiness, empreendedora e mentora de mulheres, com o aumento do número de mulheres que são responsáveis pelo orçamento de casa, é normal que o endividamento delas também fique maior. Uma maneira de driblar os obstáculos é entender que nem sempre será possível se dividir de forma igualitária entre os deveres de mãe, mulher, dona de casa e empresária.
“Tudo bem se, às vezes, você demandar alguma tarefa ou não conseguir dar tanta atenção as atribulações familiares. É importante saber identificar quando uma área da sua vida precisa de mais cuidado”.
Outra dica importante é se planejar: “Quando você vai montar uma empresa, você precisa montar um planejamento financeiro de curto, médio e longo prazo. Você já tem que ter determinado o valor do investimento, quanto você vai investir na montagem desta empresa, você precisa ter um fluxo de caixa para os primeiros doze meses, sem contar com o faturamento dessa empresa”.
“E você precisa ter uma reserva financeira para que você sobreviva também, nesses primeiros doze meses, sem fazer uma retirada da empresa. E quando a empresa começar a faturar, você tem que saber como investir esse dinheiro. Precisa tomar muito cuidado com a parte de estoque, as vezes as pessoas se empolgam e acabam fazendo estoque demais e os produtos encalham, isso tira a lucratividade da empresa”.
O estudo ouviu 600 mulheres moradoras do Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Alagoas.
Para nortear as análises, as respostas foram comparadas com números de levantamentos nacionais e internacionais, como o Monitor Global de Empreendedorismo (GEM, na sigla em inglês, de 2021), a pesquisa do Sebrae (2021), e a pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e Serviço de Proteção ao Crédito (CNDL SPC Brasil, 2022).
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