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Barrada em escolas por diagnóstico errado, empresária cria com filha negócio educacional de R$ 2 mi

Há quem diga que a aptidão para certas profissões vem de família. Pelo menos é essa a máxima para muita gente que considera o empreendedorismo uma habilidade passada de geração para geração. Na família da Roberta Bento, foi exatamente assim. Ao lado de sua filha Taís, ela hoje lidera a SOS Educação, uma empresa educacional com faturamento estimado de R$ 2 milhões, estendendo os laços entre mãe e filha também ao mundo dos negócios.

A relação de Roberta com a educação começou ainda na infância. Diagnosticada com paralisia cerebral e atraso no desenvolvimento de funções básicas durante a infância, Roberta se tornou um caso desafiador para a medicina. “Meus pais ouviram dos médicos que eu seria uma criança difícil de lidar e com problemas de aprendizagem. Tinha necessidades que me levaram para longe da escola até os sete anos de idade”, conta.

Ainda em idade escolar, foi recusada por uma instituição que se considerava incapaz de atender suas demandas. “Antigamente, a inclusão não era algo tão comum. As escolas poderiam negar a entrada de um aluno, desde que entendessem que não tinham perfil para atendê-lo”. Na mesma época, porém, uma segunda escola aceitou sua matrícula. O caminho, segundo Roberta, foi sem volta. “Fiquei apaixonada pela escola, pela vida escolar e minha rotina. A educação me salvou”, lembra.

Na contramão do diagnóstico de potencial atraso de aprendizagem durante a infância, a facilidade de Roberta em aprender novos idiomas despertou a atenção dos professores e também do corpo docente da escola. Filha de pai pedreiro e mãe doméstica, Roberta tinha à sua frente poucas chances de investir em cursos de especialização em língua estrangeira. O estímulo — e estratégia — para contornar o desafio vieram de família. “Meu pai investiu no meu talento e sonho e conseguiu conquistar uma bolsa de estudos em uma escola de inglês, em troca dos serviços de pedreiro”, relembra Roberta.

Ao lado de sua filha Taís, Roberta Bento, lidera a SOS Educação /

Alguns anos depois, Roberta formou-se em Letras e passou a ensinar língua inglesa e trabalhar com tecnologia. Em meados de 1996, foi inclusive precursora de um projeto pioneiro no Brasil que levava computadores para as salas de aula em Santa Catarina. Com o passar dos anos e a maturidade profissional, surgiu também o desafio de liderar projetos de integração de tecnologias para a educação em uma empresa do segmento, um trabalho que exigia viagens nacionais e internacionais constantes em busca de disrupções e modelos bem-sucedidos de educação mundo afora.

O sonho da maternidade ganhou forma na mesma época. Logo, ainda na infância, Tais passou a acompanhar a mãe nessas viagens e tomar gosto pelo mundo da educação. Da paixão compartilhada nasceu o interesse de Taís em cursar Pedagogia e, futuramente, a SOS Educação, criada como uma página de conteúdo voltado a famílias e escolas enfrentando dificuldades na relação de crianças e jovens com os estudos. “Minha ideia era criar um reality como um “Super Nanny” da educação, mas tudo ganhou uma proporção maior do que eu esperava”, conta Taís.

Famílias e educadores passaram a buscar os serviços e consultorias de Taís aos montes. Foi assim que, em 2014, a filha fez o convite à mãe para se tornar sócia e fazer da SOS Educação um projeto mais robusto. Quatro anos depois, a empresa já era um sucesso, e também a principal fonte de renda de mãe e filha, que passavam por turbulentos processos de divórcio simultaneamente. “Tivemos de recomeçar do zero. De repente a SOS era tudo que tínhamos, e essa narrativa de superação nos ajudou a crescer, porque as pessoas se identificavam com nossas histórias”, conta Roberta.

A SOS Educação também ganhou escala com a pandemia, já que passou a ser aliada de escolas em busca da melhor maneira de nutrir as relações com os alunos diante das telas — e exclusivamente por ali. “O que fazemos é algo que nunca foi feito. Priorizamos o conteúdo que vem de estudos numa linguagem que pode ser entendida por todos, sem aquele perfil acadêmico”, diz Taís.

De lá para cá, mãe e filha conquistaram 350 mil seguidores nas redes sociais, lançaram livros e se tornaram embaixadoras de importantes conferências de educação pelo mundo. Atualmente, a empresa se intitula “parceira na relação entre família e escola”, criando conteúdos nas redes sociais, palestras e marketing de influência para o setor da educação. Em 2024, a SOS Educação deve faturar R$ 2 milhões.

Para saber criar uma parceria de sucesso na família e nos negócios, as duas são categóricas: é preciso respeitar as individualidades de cada uma. “Temos que saber focar nos pontos fortes de cada uma e respeitar as qualidades e defeitos. Todas somos boas ou ruins em algo, e é questão de entender expertises”, recomenda Roberta. “Também não abrimos mão de tempo em família, separando tempo de trabalho e lazer”, afirma.

(Texto de Maria Clara Dias)

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