Um espanto (Divulgação)
Rian Santos
riancalangodoido@yahoo.com.br
.
Candisse Carvalho, a menina avoada que eu conheci no curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe, é a candidata do PT na disputa pela Prefeitura de Aracaju.
Mudamos muito, certamente, desde quando enfrentamos a fila do Restaurante Universitário. Ante os meus olhos incrédulos, ela surge agora, inesperadamente, à frente de um projeto político.
Nada no comportamento da estudante Candisse fazia crer em preocupações de ordem coletiva. A menina era uma patricinha assumida, completamente alheia aos panfletos do movimento estudantil, por exemplo. Hoje, para a minha surpresa, ela se dispõe a cuidar de uma cidade inteira.
A candidatura de Candisse faz pensar no ambiente onde se dá o embate político em nossos dias.
Em primeiro lugar, o identitarismo foi aceito como pedra de toque no campo progressista, em substituição ao trabalhismo que batiza o PT. Pois bem, Candisse é mulher.
Depois, há que se considerar a emergência da sociabilidade em rede, mediada pelas big techs, o alcance das fake news, o habitat odiento cultivado pela extrema direita. Candisse também é jornalista.
Muito já se falou sobre a estrela apagada do PT, a necessidade de renovação dos quadros da esquerda em Sergipe. Em política, contudo, os cristão novos são recebidos sempre com justificada desconfiança pela base partidária, a militância.
Recém-chegada à casa, Candisse ainda não convenceu os companheiros de partido a lhe confiarem o próprio voto, apesar da influência aqui presumida do senador Rogério Carvalho, raposa velha, com quem a candidata é casada.
E terá ainda mais dificuldade de convencer também a mim, seu colega de UFS e de profissão, tão perdido quanto a maioria dos eleitores, incrédulo ante espantosa coreografia política encenada por Candisse. Unha e carne com o presidente Lula, ela jura de pés juntos. Eu custo a acreditar.