PANROTAS / Emerson Souza
A terceira edição do Download, evento realizado por meio da parceria entre Academia de Viagens Corporativas e PANROTAS, acontece em 28 de outubro no Centro de Convenções Pullman e Grand Mercure Vila Olímpia, em São Paulo.
Neste ano, o evento trará palestrantes internacionais de destaque, como Greeley Koch, diretor geral da 490 Consulting, que dará um overview sobre o mercado de gestão de viagens e viagens corporativas, destacando as tendências. O tema do Download 2024 é “Desafiando o status quo de viagens corporativas”.
Algumas dessas tendências foram adiantadas por Koch em entrevista à PANROTAS.
Confira abaixo a visão do renomado consultor americano:
Portal PANROTAS – Como você avalia o setor de viagens corporativas atualmente nos Estados Unidos, em termos de volume e também de mudanças em relação à pré-pandemia?
Greeley Koch – O setor de viagens corporativas dos EUA ainda está em recuperação e, embora os volumes permaneçam abaixo dos níveis pré-pandemia, a natureza das viagens de negócios mudou. As empresas estão mais seletivas, concentrando-se em viagens de alto impacto e orientadas para um propósito específico. Esta mudança exige uma abordagem mais estratégica na gestão, na qual os programas de viagens estão estreitamente alinhados com os objetivos gerais do negócio, garantindo que cada viagem proporcione valor além da simples reserva de um bilhete.
Portal PANROTAS – O que você vê como tendências nos EUA que os brasileiros deveriam ficar atentos?
Greeley Koch – Duas tendências principais estão moldando o mercado dos EUA: melhorar a experiência do viajante e aumentar a disponibilidade de conteúdo por meio de novos modelos de distribuição. A personalização durante o processo de reserva está se tornando uma prioridade, com mais recursos de autoatendimento que ainda fornecem acesso a descontos negociados pela empresa e garantem o acompanhamento do dever de cuidado. O NDC e a conexão direta também estão mudando o jogo, à medida em que as companhias aéreas transferem o conteúdo dos canais GDS/EDIFACT tradicionais. Estamos vendo mais disso nos Estados Unidos e na Europa, e o Brasil precisa se preparar para essa mudança, especialmente porque algumas companhias aéreas latino-americanas já estão adotando o NDC. Essas tendências desafiam as antigas formas de gestão de viagens, exigindo que as empresas repensem a forma como acessam o conteúdo e proporcionam uma experiência perfeita e personalizada aos viajantes.
Portal PANROTAS – Em quais áreas têm atuado suas últimas consultorias e com que foco? O que elas dizem sobre esse novo momento nas Viagens Corporativas?
Greeley Koch – Consultorias recentes têm se concentrado em estratégias de reserva de conteúdo e em ajudar os fornecedores a se aproximarem de seus clientes nestes tempos de mudança. Um dos meus compromissos corporativos recentes envolveu a criação de um roteiro para o futuro da disponibilidade de conteúdo de reserva, garantindo que a empresa esteja preparada para mudanças de NDC e evolução dos canais de distribuição. Outro compromisso teve como foco ajudar um fornecedor a compreender melhor a voz do cliente – o que os viajantes querem hoje e como satisfazer essas expectativas. Estes projetos destacam a necessidade crescente de empresas e fornecedores se alinharem mais estreitamente com as exigências dos clientes e proporcionarem uma experiência de viagem mais personalizada e eficiente.
PANROTAS / Emerson Souza
Portal PANROTAS – Em sua carreira como consultor, quais os maiores desafios que você encontrou? Em outras palavras, quais são as soluções mais desafiadoras a encontrar?
Greeley Koch – O maior desafio é lidar com as prioridades conflitantes de gestores de viagens, fornecedores e viajantes. Equilibrar o controle de custos, a satisfação dos viajantes e a lucratividade dos fornecedores é complexo. É aqui que os modelos tradicionais de RFP de aquisição muitas vezes ficam aquém, pois tendem a priorizar o custo em detrimento do valor e da inovação. Além disso, o status quo prevalece tanto do lado do comprador como do fornecedor, o que muitas vezes inibe a disposição de assumir riscos em soluções novas e potencialmente revolucionárias. Adotar essas novas abordagens requer uma mudança de mentalidade, mas a hesitação em se afastar dos processos familiares pode atrasar a indústria.
Portal PANROTAS – Você acha que o mercado latino-americano está no mesmo ritmo do norte-americano, mesmo levando em conta as diferenças culturais? A globalização ainda é uma palavra válida ou a regionalização fala mais alto?
Greeley Koch – Estou vendo a América Latina fazer progressos significativos na adoção de novos métodos, de forma mais rápida do que no passado. Há também uma onda de empresas de tecnologia inovadoras no Brasil entrando no mercado de viagens corporativas, trazendo nova energia e entusiasmo para a região. Há uma mistura de conhecimentos regionais e globais, mas o interessante é que a inovação está sendo criada aqui mesmo na América Latina. Para aproveitar plenamente essa dinâmica, precisamos que as empresas e os fornecedores adotem e apoiem essas inovações.
Portal PANROTAS – O que precisa mudar com mais urgência no setor de viagens corporativas, mas encontra resistência dos players?
Greeley Koch – A adoção da tecnologia é a mudança mais urgente necessária, mas há uma hesitação notável tanto por parte dos fornecedores como das empresas. Muitos estão relutantes em adotar novas ferramentas devido a preocupações com custos, interrupções ou com o desconhecido. As empresas, em particular, precisam assumir mais riscos, experimentando programas piloto para explorar como estas inovações podem ser integradas de forma eficaz nas suas operações. Sem essa vontade de experimentar, a indústria terá dificuldade em evoluir tão rapidamente quanto necessário. Adotar essas novas tecnologias é fundamental para melhorar a experiência do viajante e aumentar a disponibilidade de conteúdos (ambos fatores importantes para o futuro das viagens corporativas) por meio de novos modelos de distribuição como o NDC.
Portal PANROTAS – TMCs, gestores de viagens, fornecedores… quem é mais desafiado hoje?
Greeley Koch – Todos os players acima são desafiados hoje, devido às rápidas mudanças que estão ocorrendo na indústria. Os gestores de viagens estão sentindo a pressão para equilibrar o controle de custos, a segurança dos viajantes e a satisfação dos funcionários em um ambiente cada vez mais complexo. As TMCs também lutam para acompanhar a evolução da tecnologia e os novos modelos de distribuição, enquanto os fornecedores navegam em um cenário em mudança, onde os canais de distribuição tradicionais já não são suficientes. Como resultado, vejo mais empresas buscando assistência para traçar o futuro de seus programas de viagens e fornecedores buscando incorporar a voz do cliente de forma mais direta no desenvolvimento de seus produtos. Essa colaboração é essencial para se manter competitivo e atender às necessidades em evolução do mercado.
Portal PANROTAS – Não vamos esquecer dos viajantes corporativos. Quais são os seus maiores desafios?
Greeley Koch – Os viajantes corporativos hoje querem mais recursos de autoatendimento e experiências tecnológicas integradas que reflitam aquilo a que estão acostumados em viagens de lazer. Eles esperam que sua experiência de viagem corporativa seja igualmente intuitiva e conveniente, desde a reserva até o pagamento e o relatório de despesas durante a viagem. Eles buscam um processo sem atrito que lhes permita se concentrar no trabalho, em vez de ficarem atolados em sistemas desatualizados e complicados.
Portal PANROTAS – Como a tecnologia desafia todos esses atores e qual o papel que cada um deve assumir em relação às novidades, ferramentas e soluções tecnológicas?
Greeley Koch – A tecnologia está remodelando fundamentalmente as viagens corporativas, mas o principal desafio é garantir que todos os intermediários – TMCs, gestores de viagens, fornecedores e empresas – trabalhem em conjunto, e não de forma adversária. Os fornecedores estão ansiosos para atualizar as suas ofertas com ferramentas e modelos de distribuição inovadores, enquanto as empresas muitas vezes dão prioridade à conformidade e ao controle. O futuro das viagens corporativas reside em encontrar um equilíbrio que integre inovação e conformidade, criando uma dinâmica onde todos os intermediários possam se beneficiar dos avanços sem sacrificar a supervisão. A colaboração, e não o conflito, será essencial para fazer avançar a indústria.
Greeley Koch é diretor geral da 490 Consulting e palestrante conhecido por seus insights sobre novos métodos de acesso a conteúdo, modelos de negócios desafiadores e foco na IA e na experiência digital do cliente. Sua experiência inclui liderança em compras funções no Bank of America e Abbott Laboratories e expertise em gestão de viagens, dados análises e empresas de serviços de hospedagem.
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