Um estudo feito pelo Sebrae com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do terceiro trimestre de 2023 revelou que 52% dos donos de negócios no país são negros. O levantamento identifica que dos 29,3 milhões de donos de pequenos negócios do país, formalizados ou não, cerca de 15,2 milhões se autodeclaram preto e pardos, enquanto 13,7 milhões (46,8%) brancos e 418 mil (1,4%) pertencentes a outras raças, como amarela e indígena.
A biomédica e professora na área da Estética, Franciele Pereira faz parte dessa estatística. Além de estar no grupo das mulheres, que também enfrenta desafios para abrir a própria empresa, ela se identifica como negra. Para ela, o empreendedorismo não estava nos planos, mas se tornou uma necessidade.
“Minha mãe é empregada doméstica, meu pai trabalha com obras. A gente nunca teve muita condição, sempre tive que me virar sozinha”, relata. “Trabalhei em várias empresas privadas, e uma das que trabalhei só fazia procedimento de laser. Eu fazia outros injetáveis e atendia fora, e fui atendendo em vários lugares de Brasília. Saí dessa empresa e consegui alugar uma sala dentro de uma clínica e fui atendendo meus clientes”, relembra.
A expansão do negócio aconteceu de maneira natural. Porém, hoje, mesmo sendo dona de duas clínicas de estética, Franciele diz que ainda nota olhares diferentes. “O mundo do empreendedorismo tem pessoas que geralmente são de classe alta. Ao buscar esse conhecimento de gestão, essas pessoas acabam te olhando diferente. Questionando seu conhecimento: será mesmo que é dona de clínica? Será mesmo que ela tem esse conhecimento? Essa percepção racial é diária”, reconhece.
Para Leonardo Júlio Souza, CEO de uma startup de educação, relata ter se dado conta do fator racial no ambiente de empreendedorismo quando já fazia parte dele. “Acontece de chegar nos locais e me ver como uma pessoa fora do ninho. Também teve muitos pequenos casos em que vi que nossa palavra não tem credibilidade. Mas você aprende a lidar e ir construindo com isso”, admite.
Tanto ele quanto Franciele reconhecem a falta de políticas públicas para a inclusão de pessoas negras no empreendedorismo. “O setor privado tem tido discussões mais avançadas sobre empreendedorismo negro do que o setor público. Esse problema ainda não foi diagnosticado nas políticas públicas”, avalia Leonardo. A biomédica identifica que o incentivo ao empreendedorismo feminino ganha mais destaque. “Vejo poucos movimentos contra o preconceito no empreendedorismo”, opina Franciele.
Retorno financeiro
A pesquisa conduzida pelo Sebrae revela, também, que a proporção de empreendedores pretos e pardos em atividades mais tradicionais e simples — que demandam menos qualificação e geram menor retorno financeiro — é superior à de brancos donos de pequenos negócios.
Os negros donos de micro e pequenas empresas são os que têm o menor nível de faturamento (77,6% deles recebem até dois salários-mínimos por mês) e o menor nível de escolaridade (45,1% têm somente até o ensino fundamental).
O levantamento do Sebrae também apresenta dados em relação à formalização dos empreendedores: 23,6% dos empresários pretos ou pardos têm CNPJ, ou seja, possuem uma empresa formalizada. Entre os brancos o número sobe para 43,1% e em outras raças para 39,7%.
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