Em entrevista ao WW desta terça-feira (22), o professor de economia chinesa do Insper, Roberto Dumas, disse ser improvável que qualquer moeda substitua o dólar nas transações globais nos próximos 10 anos, desafiando especulações sobre uma potencial mudança na ordem econômica mundial.
Dumas argumenta que a manutenção da posição do dólar está intrinsecamente ligada às políticas econômicas e estruturas de governança dos países que poderiam desafiá-lo, particularmente a China.
“Qual a probabilidade de o governo chinês permitir que os bancos chineses não sejam mais utilizados como braços parafiscais para legitimar o Partido Comunista Chinês? A minha resposta é: ‘a chance disso acontecer é praticamente nula nos próximos dez anos’. Qual é a probabilidade de o governo chinês deixar as taxas de juros livre e o câmbio livre, não manipulado?”, questionou o especialista.
Desafios da economia chinesa
O economista destacou os obstáculos significativos que a China enfrentaria para que sua moeda se tornasse uma alternativa viável ao dólar. Entre eles, a necessidade de liberalização do mercado financeiro chinês, incluindo a abertura da conta capital e a permissão para que as taxas de juros e o câmbio flutuem livremente.
“Se eu deixar o câmbio livre e não subsidiar a taxa de juros, talvez eu não tenha um crescimento econômico que legitime o governo da China”, explicou Dumas, ilustrando o dilema enfrentado pelos líderes chineses.
Perspectivas para outras moedas
O professor também abordou a situação de outras moedas, como o euro, que, apesar de ser um projeto político de longa data, não conseguiu substituir o dólar como moeda dominante nas transações internacionais. Dumas atribuiu isso, em parte, à falta de um federalismo fiscal completo na zona do euro.
“Nem o euro que ainda sofre de uma deficiência, que é o federalismo fiscal, conseguiu substituir o dólar, o que virá uma moeda manipulada com uma conta capital fechada, com uma taxa de juros subsidiada e ainda com ditadura”, argumentou o professor do Insper, referindo-se às limitações da moeda chinesa.
Roberto Dumas concluiu sua análise enfatizando que, enquanto a China mantiver seu atual sistema político e econômico, é altamente improvável que sua moeda ou qualquer outra possa desafiar seriamente a hegemonia do dólar no cenário internacional nos próximos 10 anos.