A chamada “pandemia das apostas” representa um desafio sem precedentes para o Brasil, segundo o sociólogo e professor aposentado da USP, José Pastore.
Em entrevista à CNN Brasil, o especialista alertou sobre a complexidade de controlar essa atividade que tem se espalhado rapidamente pelo país.
Pastore destacou que, diferentemente de outras pandemias, não há uma “vacina” eficaz para conter o avanço das apostas online.
“É uma pandemia que está muito difícil de ser controlada”, afirmou o sociólogo, ressaltando a ineficácia prática de muitas regras já aprovadas.
Desafios no controle das apostas
Um dos principais obstáculos apontados por Pastore é a dificuldade de fiscalização, especialmente no que diz respeito à proibição de apostas para menores de 18 anos.
“Como é que você controla isso através da internet e do telefone celular? É um desafio fantástico”, questionou.
O sociólogo também chamou atenção para o impacto devastador nas famílias, principalmente as de renda mais baixa.
Citou o exemplo de um jovem que estava consumindo o dinheiro da família em apostas diárias no “Jogo do Tigrinho”, ilustrando a compulsividade e dependência geradas por essas atividades.
Impactos socioeconômicos
Pastore enfatizou que a proliferação das apostas agrava a pobreza e acentua a desigualdade social.
“Essa que é a questão importante. E quais são essas famílias? Principalmente as famílias de renda mais baixa”, explicou.
O especialista comparou a situação ao tratamento dado aos narcóticos no Código Penal brasileiro, questionando se a abordagem deveria ser de regulamentação ou proibição.
Ele reconheceu a complexidade jurídica da questão, mas insistiu na necessidade de ação devido aos efeitos nocivos sobre as famílias.
Diante desse cenário, Pastore concluiu que o quadro é “extremamente desafiador para o legislador e para o próprio poder executivo”, ressaltando a urgência de medidas efetivas para lidar com essa nova forma de dependência que se espalha pelo país.