Ao fim de 2024, o mercado de jogos deve atingir uma receita global de US$ 187,7 bilhões, somando um crescimento anual de 2,1%. O maior setor de entretenimento atrai a atenção de jogadores e criadores brasileiros de diversas especialidades. O Sebrae está atento a esse mercado e aos pequenos negócios atuantes na área.
O foco da instituição está na construção de dois planos, um estratégico e outro tático, de acesso ao mercado de games. O objetivo é formar uma base sólida para o desenvolvimento do setor, com capacitação, networking e fortalecimento da governança local e nacional. Segundo o gestor nacional de TIC e Games do Sebrae, Eúde Cornélio, esses planos representam um marco para a área de games no Brasil.
Estamos reforçando nosso papel como ponte entre empreendedores, investidores e mercados, unindo esforços para que o Brasil esteja preparado para competir globalmente. É uma abordagem que alia visão estratégica a ações práticas, alinhada com as tendências do setor e as necessidades regionais.
Eúde Cornélio, gestor nacional de TIC e Games do Sebrae
Mercado potencial
Segundo um levantamento da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Games (Abragames), mais da metade das desenvolvedoras de jogos no país tem 70% do faturamento proveniente de mercados internacionais. Para a gerente de Relações Institucionais da associação, Raquel Gontijo, o mercado brasileiro precisa de apoio na preparação dos empreendedores para lidar com a competitividade.
“É fundamental que esses profissionais cheguem a feiras de negócios e mesas de negociação e que consigam estruturar suas estratégias de marketing com máxima consciência, preparo e eficiência. Esse nível de preparação é o que permite que eles se destaquem em um cenário cada vez mais disputado”, acredita.
Para Raquel, mais do que criar games, também é preciso saber gerir um negócio. “Isso inclui entender o mercado de games enquanto produto e profissão, dominar tarefas administrativas e gerenciais, além de adquirir habilidades em gerenciamento de projetos e de equipes. Essa combinação é essencial para criar produtos com viabilidade comercial”, reforça a gerente.
Do Brasil ao Canadá
Pioneira no mercado brasileiro, a Behold Studios começou no ano de 2009, em Brasília (DF). Atualmente com sede no Canadá, o estúdio criou jogos de sucesso como Knights of Pen & Paper, Chroma Squad e Out of Space. Mesmo fora do país, os jogos produzidos pela Behold continuam vendendo bem no Brasil.
“É nossa segunda maior região de impacto. Fazemos questão que nossos jogos sejam de brasileiros para brasileiros, então isso pode ter sido um ponto positivo. Além disso, fizemos marketing pesado no Brasil, participando de eventos e na mídia local”, explica o sócio-fundador da Behold, Hugo Vaz.
A mudança para Toronto, no Canadá, foi motivada pela facilidade de investimento internacional e pelo mercado mais maduro. Lançar jogos com publicadoras internacionais permite a recuperação do investimento antes de compensar o trabalho do desenvolvedor.
“Elas têm o domínio sobre se um jogo vale ou não a pena ser feito, limitando a liberdade criativa e condicionando a empresa a seguir seus métodos”, revela. Hugo acredita que não há receita de sucesso para fazer games. “Mas, para atingir o mercado internacional, aumentam as chances de impacto incluir pelo menos a tradução para o inglês”, completa.
Construindo futuros
Segundo a Abragames, o mercado brasileiro amadureceu muito nos últimos cinco anos. As empresas se conectam às demandas internacionais por produções com escopos mais enxutos, focadas em qualidade e entrega. “Essas características se alinham de forma natural ao perfil dos desenvolvedores brasileiros”, afirma Raquel.
Uma das iniciativas do Sebrae na área é o Crie Games, com workshops gratuitos para quem está começando e aceleração voltada para estúdios iniciados. Hugo Vaz acredita que há boas condições para começar um projeto no Brasil.
Há mais faculdades, conhecimento na internet, mais oportunidades de exposição e lançamento, além de uma comunidade mais esclarecida sobre a profissão. Porém, também há uma competitividade maior no mercado e na mídia, com dezenas de jogos lançados por dia.
Hugo Vaz, desenvolvedor.
Para ele, os jogos precisam ser vistos com mais seriedade pelos grupos de investimento, pois há pouco entendimento sobre os desafios do setor, o que dificulta a relação com instituições de crédito nacionais. “Além disso, o potencial cultural dos jogos brasileiros, em específico, precisa atingir o mundo, portanto, uma maior ajuda do governo é bem-vinda. A regularização da profissão e programas de carreiras é um desafio para todos no setor”, analisa Hugo.