Por Barroso Guimarães
A médica psiquiatra Nicole Fonseca foi entrevistada pelo jornalista Barroso Guimarães no programa “A Hora da Notícia”, da Aperipê FM, para discutir temas atuais e relevantes sobre saúde mental, com destaque para a depressão refratária e o acesso a tratamentos no Brasil.
Redução do estigma e preconceito
Durante a conversa, Dra. Nicole destacou a evolução do olhar social sobre a psiquiatria. Se antes havia vergonha em procurar um psiquiatra, hoje a busca por ajuda é vista com mais naturalidade, embora o preconceito ainda persista, especialmente no ambiente de trabalho. Ela reforçou que transtornos mentais não significam incapacidade e que o acompanhamento adequado pode permitir a manutenção das atividades profissionais.
O que é depressão refratária?
A especialista explicou que a depressão refratária é caracterizada pela ausência de resposta a pelo menos dois tratamentos antidepressivos diferentes, realizados em doses e tempo adequados. Esse quadro exige avaliação criteriosa, pois pode envolver subtipos de depressão, como a melancólica ou atípica, que demandam abordagens específicas.
Fatores de risco e diagnóstico
Entre os fatores de risco para a depressão refratária, Dra. Nicole citou alterações hormonais (como problemas na tireoide), deficiências vitamínicas, presença de doenças como fibromialgia, além de fatores sociais, financeiros e ambientais. O diagnóstico é clínico, mas exames laboratoriais podem ser solicitados para descartar outras causas.
Situação no Brasil
O Brasil apresenta índices preocupantes de depressão refratária, com estimativas indicando que cerca de 40% dos pacientes com depressão não respondem aos tratamentos convencionais, o que agrava o risco de suicídio e sobrecarrega o sistema de saúde. O acesso a tratamentos inovadores pelo SUS é restrito, devido à baixa oferta de serviços e à redução de investimentos em saúde mental.
Tratamentos disponíveis
Dra. Nicole detalhou as principais opções terapêuticas para depressão refratária:
Psicofármacos e psicoterapia: Podem ser usados isoladamente ou em associação.
Neuromodulação: Técnicas como a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a eletroconvulsoterapia (ECT) são indicadas para casos graves e refratários, com bons resultados e baixo risco de efeitos colaterais.
Novas medicações: A cetamina, inclusive em formulação intranasal, tem mostrado eficácia em casos resistentes e já começa a ser oferecida em alguns centros universitários do SUS, embora o acesso ainda seja limitado.
Atenção a comorbidades: O tratamento de condições associadas, como distúrbios hormonais e deficiências nutricionais, é fundamental para o sucesso terapêutico.
Políticas públicas e desafios
A psiquiatra defendeu o fortalecimento de políticas públicas que ampliem o acesso a terapias inovadoras, mais pesquisas e investimentos em saúde mental, especialmente em hospitais universitários e centros de referência. Ela ressaltou a importância de combater o preconceito, inclusive contra técnicas como a ECT, e de garantir financiamento adequado para serviços especializados.
Sinais de alerta e orientações
Entre os sinais de alerta para transtornos mentais, Dra. Nicole citou:
Isolamento social
Alterações bruscas de apetite e peso
Perda de interesse em atividades
Pensamentos negativos e de desvalorização
Ela orientou que familiares e amigos conversem com quem apresenta sintomas, incentivando a busca por ajuda profissional. Destacou ainda que o tratamento psiquiátrico não é necessariamente vitalício e que, em muitos casos, é possível receber alta e manter a saúde mental apenas com psicoterapia.
Mitos esclarecidos
Psiquiatra não é “médico de doido”: qualquer pessoa pode precisar de acompanhamento em algum momento da vida.
Medicamentos psiquiátricos não causam dependência quando usados corretamente, exceto em classes específicas, como benzodiazepínicos.
O tratamento é individualizado e pode ser temporário, conforme a necessidade do paciente.