Implementar um novo modelo de desenvolvimento econômico na Amazônia, integrar investimentos com iniciativas sustentáveis da região e potencializar o ambiente de negócios no Baixo Amazonas em uma perspectiva de mutualismo com a floresta. É assim que o Sebrae Nacional em parceria com o Sebrae Pará e as demais unidades da região visam trabalhar nos municípios de Belterra, Santarém, Mojuí dos Campos e o Distrito de Alter do Chão, no estado do Pará.
E para gerar esse impulsionamento aos empreendedores amazônicos, que ganha ainda mais força com a chegada da COP 30 a Belém, um roteiro de visitação a negócios, gestores e pessoas foi realizado nesses municípios paraenses. A agenda teve início na manhã desta segunda-feira (16), em reunião com o prefeito eleito de Santarém, Zé Maria Tapajós.
Na ocasião, estiveram presentes o diretor-técnico do Sebrae, Bruno Quick; o diretor-superintendente do Sebrae Pará, Rubens Magno; o gerente regional do Sebrae do Baixo Amazonas, Paulo Dirceu; o gerente de competitividade nacional e conselheiro do Sebrae Pará, Fábio Krigier; o gerente adjunto da Unidade de Acesso a Mercado, Ivan Tonet e a coordenadora nacional de Biomas e Bioeconomia, Newman Costa.
Reunião com o prefeito eleito de Santarém
A reunião foi pautada pela expectativa da COP da Floresta – como está sendo chamada a COP 30 – e um diálogo sobre como a administração pública e o Sebrae podem cooperar para imprimir na região pilares de interesse e de colaboração para posicionar Santarém como protagonista nessas discussões.
O diretor-superintendente do Sebrae Pará, Rubens Magno, lembrou que o Sebrae está nos 144 municípios do estado e desta forma, pretende acelerar os processos de bioeconomia tendo a Amazônia como grande referência.
O papel do Sebrae tem sido muito importante e tem se potencializado com a cobertura de 100% do estado do Pará. O Sebrae está na capital e nos interiores da Amazônia para costurar os processos de bioeconomia. E precisamos das parcerias, com o poder público, para avançar ainda mais com o empreendedorismo na Amazônia.
Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae Pará.
A soma de forças e a proximidade do Sebrae com o poder público também foi destacado pelo diretor-técnico do Sebrae Nacional, Bruno Quick. “As iniciativas podem ser um embrião para um modelo novo de desenvolvimento e o poder público tem que estar em conexão nessa parceria. A ideia é somar forças para botar de pé um novo modelo de desenvolvimento econômico e o papel do Sebrae é ser integrador. Captamos as iniciativas já existentes na região para investir nelas e gerar renda para os que vivem aqui”, comenta o diretor.
Quick também salientou as oportunidades que a COP 30 vai gerar para dar visibilidade aos modelos de negócios sustentáveis no Baixo Amazonas. “É preciso identificar essas aberturas para que Santarém seja uma vitrine não somente da COP, mas do futuro.”
Para o prefeito eleito, Zé Maria Tapajós, a parceria com o Sebrae pode posicionar Santarém como protagonista nas discussões sobre sustentabilidade, preservação da Amazônia e atração de investimentos voltados ao desenvolvimento ambientalmente responsável.
“O Sebrae é uma marca de renome que nós teremos o maior prazer de ter como parceiro. Nós queremos fazer o melhor para Santarém. Nós vivemos ao lado da riqueza e muitas vezes não sabemos como explorar da forma adequada para que a floresta permaneça em pé e vemos no Sebrae esse aporte de orientação para que isso ocorra”, complementou Zé.
Instituto Amazônia 4.0
Após a reunião, a comitiva do Sebrae seguiu de carro para o município de Belterra – distante 49km de Santarém – para conhecer a sede do Instituto Amazônia 4.0 que tem como idealizadores Ismael Nobre e Sônia dos Santos. A iniciativa une conhecimentos tradicionais à ciência e à indústria em biofábricas móveis, os Laboratórios Criativos da Amazônia (LCAs) e desenvolve métodos avançados para transformar insumos amazônicos em produtos de alto valor agregado, além de inserir moradores locais promovendo a capacitação.
Ismael reforçou que o objetivo principal do Amazônia 4.0 é fazer agregação de valor nas comunidades ribeirinhas em que atuam para que haja entrada de recursos de forma a “florescer” outras iniciativas nesses locais. “Quando chegamos na comunidade, buscamos inserir os comunitários no processo. Implantamos os LCAs que ficam dois meses capacitando a população local e multiplicam a capacitação gerando conexões. Neste momento, estamos presentes na comunidade Surucuá, localizada na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, e já imprimimos nosso legado nos comunitários”, diz Ismael.
Para reforçar o poder que a orientação e a capacitação do Instituto exerce no lado empreendedor das pessoas que profissionaliza, Ismael contou a história de Selma Ferreira, uma agricultora que faz parte da Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais de Belterra (Amabela) e que com a orientação do Instituto conseguiu estruturar a sua produção de Cupulate – chocolate feito da semente do cupuaçu. Desta forma, a associação só de mulheres impulsionou ainda mais o empreendedorismo feminino das agricultoras que hoje têm mais um produto beneficiado para vender nas feiras, gerar renda às suas famílias e garantir a autonomia financeira.
As similaridades de investimento capacitativo que o Sebrae e o Instituto têm, foram salientadas por Bruno Quick:
Nosso intuito é investir nos empreendedores da Amazônia assim como o Instituto faz. Percebemos aqui como o poder da soma impacta na vida do outro. A Amazônia 4.0 soma no trabalho da Amabela, exemplificado aqui com a história da Selma, e a Selma soma no trabalho das demais trabalhadoras rurais. É isso que queremos fazer: somar com os empreendedores da Amazônia para gerar uma grande cadeia de oportunidades.
Bruno Quick, diretor-técnico do Sebrae.
Conexão de ciência, indústria e natureza no MuCA
Projetos que unem saberes tradicionais e ciência de ponta, com impulsionamento do desenvolvimento sustentável e a bioeconomia. Este é o Museu de Ciência da Amazônia (MuCA), também localizado em Belterra, a poucos metros do Instituto Amazônia 4.0. O espaço foi o terceiro local visitado pela comitiva do Sebrae.
O MuCA, assim como um museu, possui um acervo, mas este é diferenciado, agrega uma amostra da biodiversidade da Floresta Nacional do Tapajós e também coloca a educação e o conhecimento científico como estratégias de conservação da natureza. Para Luiz Moura, coordenador geral do Museu, a ideia é ser um grande receptivo de produtos e serviços. “Temos iniciativas que valorizam a cultura da Amazônia e queremos expressar a identidade ancestral por meio do MuCA e contamos com o Sebrae para aprimorar este objetivo.”
Pesquisa e empreendedorismo na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa)
A missão do Sebrae prosseguiu no município de Santarém para conhecer dois projetos de pesquisa na Ufopa. O primeiro deles é encabeçado pela professora e pesquisadora Rosa Mourão. Ela atua no Laboratório de Bioprospecção e Biologia Experimental onde, juntamente com seus alunos, trabalha com três grandes linhas de pesquisa: alimentos, óleos essenciais e fixos, e corantes naturais da Amazônia.
O laboratório tem como princípio unir três pontas: pesquisa, emprego e comércio, todos desenvolvidos e com retorno e empregabilidade para a Amazônia. E dentro desta perspectiva, desenvolvem a pesquisa ser comercializada pelas empresas, como a Deverás Amazônia; um case que vende produtos com insumos amazônicos; e a Xibé; moda sustentável com tingimentos naturais.
O segundo projeto que a comitiva do Sebrae conheceu foi a Bionama, uma empresa que trabalha com alimentos e cosméticos naturais, e que foi criada dentro do Laboratório de Biotecnologia de Plantas Medicinais. A iniciativa tem como desenvolvedores a pesquisadora e docente biotecnologista/biomédica Dra. Josiane Almeida; a pesquisadora e docente bióloga Dra. Elaine Oliveira; o empreendedor Gabriel Ranieri; a doutoranda em Biotecnologia Laenir Anjos e o engenheiro florestal Wallacy Barreto.
O empreendimento, fruto de anos de pesquisa, fomenta a bioeconomia com produtos acessíveis e sustentáveis, gerando valor para comunidades e clientes. Trabalham com uma gama de produtos como sabonetes feitos com óleos essenciais, hidratantes regenerativos feitos da manteiga de cupuaçu, brownie feito de Ora-Pro-Nóbis com alto teor proteico, farinha de Uxi Amarelo e farinha de Cumaru.
“Para a pequena empresa dar certo, ela tem que ter diferencial e agregar valor. E para isso precisa de inovação e pesquisa. O Sebrae vem para ser um integrador, fazendo um esforço concentrado para trabalhar o turismo, o design, a gastronomia, a moda, a ciência e o legado econômico, mostrando um modelo que revele um novo jeito de fazer desenvolvimento econômico para construir políticas de apoio para que haja recursos e investidores para fazer pesquisa, mostrando o melhor do Pará e promovendo potencial para impactar positivamente os negócios da Amazônia”, finalizou Quick.