A CPI do Crime Organizado realizou nesta terça-feira (9) uma das sessões mais importantes de sua trajetória. O relator, senador Alessandro Vieira (MDB/SE), conduziu a oitiva do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com questionamentos diretos sobre a infiltração do crime organizado no Estado brasileiro e a necessidade de fortalecer mecanismos de controle ético e institucional.
Alessandro chamou atenção para os dados alarmantes do Rio de Janeiro, que classificou como “laboratório e vitrine do crime organizado no Brasil”. Segundo o senador, 79% dos adolescentes internados no estado estão ligados ao Comando Vermelho, revelando um processo sistemático de cooptação de crianças e jovens.
“O crime organizado não é o pobre armado na favela. Isso é apenas sintoma da falência do Estado. O problema real está infiltrado em gabinetes, escritórios de lobby, campanhas e estruturas de poder”, afirmou Alessandro.
Durante a oitiva, Lewandowski reconheceu a gravidade do avanço do crime organizado e defendeu uma cooperação nacional e internacional mais efetiva, além de reforço às estruturas de investigação. O ministro destacou que o país já possui arcabouço legal suficiente para enfrentar práticas ilícitas, tanto no sistema de Justiça quanto na política, mas que falta aplicação rigorosa das normas.
Ele também apontou fragilidades no controle do financiamento eleitoral, defendendo mecanismos mais robustos para fiscalizar o uso dos fundos partidário e eleitoral. “A legislação existe. O que falta é aplicá-la com efetividade e aprimorar os mecanismos de controle, especialmente no financiamento eleitoral”, apontou.
O senador Alessandro defendeu a criação de um código de ética para ministros de tribunais superiores, citando episódios recentes envolvendo viagens e contratos milionários que, segundo ele, fragilizam a confiança pública. “Não podemos naturalizar autoridades viajando em jatinhos e participando de eventos pagos pelo crime organizado. O Brasil só muda quando enfrentarmos a doença que se instalou no próprio Estado”.
Ao final da sessão, Alessandro apresentou dois requerimentos para aprofundar as investigações sobre o Rio de Janeiro: a convocação do deputado estadual Rodrigo Bacellar, presidente afastado da Alerj, e do ex-governador Anthony Garotinho, que tem feito denúncias públicas sobre o avanço das facções no estado. Ambos foram aprovados. “O Estado brasileiro está sendo sequestrado pelo crime organizado. Enquanto houver espaço, vou persistir nesse enfrentamento”, concluiu o relator.