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Especialista analisa impasse da segurança pública no Brasil e alerta: “Seguimos sem um projeto real para o país”

Entre a romantização do crime e o discurso do confronto, o Brasil segue sem um projeto real de segurança pública. Analistas previam que o tema dominaria a pauta das eleições de 2026. Todavia, a Operação Contenção — contra o Comando Vermelho (CV) —, realizada pelas polícias Civil e Militar do governo Cláudio Castro, antecipou de forma trágica esse debate. O saldo: 121 pessoas mortas (das quais quatro eram policiais), 93 fuzis apreendidos, drogas e 113 pessoas presas.

A operação, considerada a mais letal do Brasil, foi classificada como um sucesso pelo governador e recebeu amplo apoio popular. No entanto, é preciso refletir: qual o sucesso de uma ação em que quatro policiais são mortos, outros ficam feridos e nenhuma mudança estrutural ocorre nas comunidades ainda dominadas pelo crime? A sociedade, de certo modo, “puxou o gatilho” junto com a polícia.

O Brasil tem a polícia que mais mata e a que mais morre, escreve Dr. Fábio Lopes – Foto: arquivo pessoal

A polarização política abriu a chamada janela de Overton, permitindo a aceitação, por parte da população, da “matança” e de outras práticas travestidas de política de segurança. De um lado, há correntes ideológicas que enxergam o criminoso apenas como vítima do contexto social, romantizando o crime. De outro, grupos que tratam a segurança pública de forma casuística, sustentando o discurso de que “bandido bom é bandido morto” e cooptando parte das forças de segurança para essa narrativa.

Importante destacar que essa construção ideológica não alcança as classes mais abastadas, para as quais o Estado continua oferecendo proteção seletiva. Assim, ambos os espectros políticos carecem de um projeto consistente e duradouro de segurança pública.

O cansaço social tem alimentado o discurso do confronto. O brasileiro comum já não suporta mais ver seu celular — comprado a prestações — ser furtado a caminho do trabalho. O morador das favelas, por sua vez, convive diariamente com a violência do crime organizado e com a ausência do Estado. Esse desamparo coletivo estimula o apoio a medidas imediatistas, ainda que ineficazes e sangrentas. O resultado é um paradoxo: o Brasil tem a polícia que mais mata e também a que mais morre. Seja sob governos de esquerda ou de direita, a lógica permanece a mesma.

Em alguns estados, a manutenção da chamada “tranquilidade social” se apoia no uso em larga escala dos “autos de resistência”, que se transformaram em ativo político de governadores. O governo federal, por sua vez, implementou a Lei Antifacção, mas não consegue avançar na aprovação da PEC da Segurança Pública. Enquanto isso, setores da direita tentam classificar organizações criminosas como “narcoterroristas” — uma medida que, na prática, pouco muda, além de abrir brechas para interferência estrangeira na soberania nacional e para o deslocamento de competências internas.

Esse é o cenário complexo e deletério da segurança pública brasileira. Todavia, há uma centelha de esperança: a CPI do Crime Organizado, instalada no Senado e composta por técnicos sérios da área, pode finalmente apontar o braço político do crime e propor soluções estruturantes.

Parafraseando Oscar Wilde: “O Brasil passou da barbárie à decadência sem ainda conhecer a civilização.” A frase ilustra bem o ponto a que chegamos e a urgência de repensar nossas políticas de segurança de forma técnica, humana e integrada.

Por Fábio Lemos Lopes, Policial Militar de R/R, advogado e especialista em Violência, Criminalidade e Políticas Públicas pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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