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Falta de infraestrutura emperra avanço dos ônibus elétricos no Brasil

A auxiliar de serviços gerais Lilian Vitorino percorre diariamente 45 km para chegar ao trabalho na região central de Brasília. O percurso é feito em ônibus da rede pública de transportes. Recentemente, durante o trajeto, ela notou uma mudança. “Não tinha barulho”, conta.

Diante da constatação, procurou o motorista e foi informada que o ônibus era movido a eletricidade — um dos seis em circulação na capital. Mas não é apenas o silêncio que caracteriza esse tipo de veículo. Os elétricos emitem menos gás carbônico quando comparados aos movidos a combustíveis fósseis, como o diesel.

É por conta dessas vantagens que o Brasil iniciou um processo de substituição da frota de ônibus. Tudo para cumprir a meta mundial, fechada no Acordo de Paris, de reduzir as emissões de gás carbônico e manter o aumento da temperatura média do planeta “bem abaixo” dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais.

Nesse contexto, o uso de veículos elétricos exerce um papel fundamental. Segundo a Federação Europeia de Transporte e Meio Ambiente, carros elétricos emitem 3 vezes menos gás carbônico em comparação aos modelos convencionais.

Com isso em mente, governos ao redor do mundo resolveram substituir a frota de veículos utilizados em transportes públicos por modelos menos danosos ao meio ambiente, como os híbridos ou elétricos.

A China é referência no assunto. Cerca de 65% dos ônibus utilizados no transporte público no gigante asiático são elétricos.

Na União Europeia, 43% dos ônibus adquiridos pelas cidades em 2023 são elétricos ou movidos a hidrogênio verde. A frota de Londres, por exemplo, já é 60% sustentável. Paris tem planos para ter 90% da frota composta por veículos elétricos até 2030.

No Brasil, a realidade ainda é diferente. Segundo a plataforma E-bus Radar, que monitora o transporte público na América Latina, o país possui 556 ônibus elétricos, em uma frota de mais de 100 mil ônibus. Sendo assim, os elétricos representam menos de 1% da frota nacional.

Para Roberto Marx, do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de São Paulo (USP), o que tem emperrado o avanço dos ônibus elétricos no Brasil é a falta de infraestrutura.

“Não basta comprar os ônibus. É preciso ter, por exemplo, pontos de carregamento das baterias nas garagens. Tudo isso implica em investimentos”, explica o professor, também coordenador do Laboratório de Estratégias para a Indústria da Mobilidade (Mobilab), que recentemente fez um estudo comparando as emissões de gás carbônico de ônibus de diferentes tecnologias de motorização e combustível.

A pesquisa constatou que além de provocar menos impacto ambientais — por emitir 90% menos carbono da produção ao descarte — os ônibus elétricos têm custos quase iguais dos movidos a diesel.

“Levando em consideração toda a vida útil, incluindo as despesas com abastecimentos e manutenção, os ônibus elétricos custam apenas 1% a mais que os movidos a diesel”, calcula.

Ter uma legislação climática, segundo o professor, também pode influenciar na transição energética. “O que tem feito as empresas se mexerem é a questão legal. Isso tem influenciado fabricantes, concessionárias de transporte, de energia, enfim todo o ciclo”.

Ônibus elétrico e a diesel tem custos parecidos / Arte/CNN

“Lei do Clima” tem ajudado a transição energética em São Paulo

São Paulo é uma das cidades pioneiras na criação de lei que exige a redução progressiva das emissões de poluentes pelas empresas de transporte. Pelas regras, as concessionárias estão proibidas de comprar novos ônibus movidos a combustível fóssil desde 2022.

A norma tem como objetivo principal a queda na liberação de três compostos: óxido de nitrogênio (NOX), dióxido de carbono (CO2) e material particulado (MP), todos emitidos pelos motores a combustão.

A lei estabelece metas para 10 e 20 anos. O horizonte é zerar as emissões em 2038. A meta para este ano é substituir 20% da frota (2.600 ônibus) por energia limpa. A SPTrans, que regula o serviço de transporte na capital paulista, diz que esse percentual está mantido. Até o momento, 318 veículos elétricos estão em circulação.

Pela proposta do governo municipal, as empresas concessionárias do transporte pagariam o equivalente ao ônibus movido a diesel e a diferença ficaria a cargo do poder público.

Um dos desafios para colocar esse plano em prática é o financiamento para a fabricação desses modelos. O que demandaria perto de R$ 8 bilhões.

A prefeitura viabilizou financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial para impulsionar a substituição. O valor soma R$ 5,7 bilhões.

Características do ônibus elétrico / Arte/CNN

Governo federal lançou programa para incentivar a renovação de frota

O Ministério das Cidades anunciou a seleção de projetos de 98 municípios por meio do Programa de Renovação da Frota (Refrota), com investimento de R$ 10,5 bilhões. A meta é substituir cerca de 5.350 veículos antigos por 2.529 ônibus elétricos e 2.782 Euro 6, que são mais eficientes e menos poluentes.

Para o ministro das Cidades, Jader Filho, a atual frota está envelhecida, o que causa uma emissão maior de CO2, além de afetar o conforto e segurança de passageiros.

“A frota de ônibus urbano circulando está envelhecida, com uma média de mais de sete anos de idade. Além de uma frota antiga emitir mais CO2 e poluentes locais, há um maior custo operacional de manutenção desses veículos antigos”, diz o ministro Jader Filho.

“Para o passageiro, veículos antigos afetam consideravelmente o conforto e a segurança das viagens. Com o Novo PAC ajudaremos nessa renovação de frota incorporando veículos novos, que melhoram o conforto e a segurança dos passageiros”, completa.

Para o ministro, os ônibus elétricos, além de serem compatíveis com a agenda na climática, também trazem melhorias para a população.

“Nosso incentivo à eletrificação vem exatamente para conciliar a agenda urbana — de melhoria das condições da população, especialmente de baixa renda, que precisa de um transporte público de qualidade — com a agenda climática”, afirma Jader.

Segundo o ministro, o principal critério de seleção do programa Refrota foi a utilização de tecnologias limpas pelos projetos participantes.

“O critério de prioridade na seleção das propostas foi a especificação de tecnologias mais limpas. Para nossa surpresa, muitas cidades indicaram o interesse pelo ônibus elétrico. Como a procura foi muito grande, houve um esforço em mobilizar mais recursos e contemplar os ônibus elétricos”, concluiu o ministro.

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